terça-feira, abril 15
A Palavra
... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
Neftalí Ricardo Reyes Basoalto
(Pablo Neruda)
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10 comentários:
oi tudo bom
eu achei bastante interessante eu seu blog
Eu queria muitíssimo que voce fosse no meu,eu faco poesias eu sempre gosto de saber as opiniões do outros se voce puder da uma passadinha la
abraços.
Olá...
Ao passar por aqui, quando encontro Pablo Neruda, e esse incrivel jogo de palavras, movimento e som... O que dizer... Apenas retornar ao inicio e reler tudo novamente...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/
olá
gostei muito do texto
passa no meu blog tb?
http://jmstv.blogspot.com/
obrigado
Eu acho dificil algum outro escritor chegar ao mesmo nivel dele, so ele consegue fazer esse jogo de palavras e conseguir esse resultado. SImplesmente genio
fico muito agradecida
e obrigada pela dica
mas eu queria outra qual voce acha a cor adequada para eu botar no blog.
Um gde bjo.
Faltam as palavras para exprimir a qualidade desse texto,arrisco-me a dizer que é sensacional mas toda palavra ainda é pouca diante dessa obra prima da escrita....e viva Pablo Neruda !E teu blog também !
Abraços!
Muito bom o seu blog. Esse texto é maravilhoso.
APaula
http://ofedor.blogspot.com
Obrigada pela visita (:
A Hilary Duff fez 12 é d+, paixão de aluguel, entre muiitos outro filmes, e ainda é cantora, ele é bem famosa..
Adorei aki,
beijooos ;*
oi, !
valeu pela visita, rs.
demorei pra vir aqui e responder, mas cá estou!
mto bonito o texto do Pablo.
eu desconheço mais da metade das palavras q existem, então vou só deixando elas caírem e vou catando, vendo se viram alguma coisa, hehe.
até mais!
mt perfeito!
uma palavra apenas pode mudar muuita coisa...!
ah, repetindo o que disseram ai em cima, se puder da uma passada no meu blog tambem!
abraço!
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